Episódio 7: E a Floresta do Centro? Já?


O céu estava vermelho alaranjado de um lado, e do outro, a lua já aparecia incrivelmente cheia. Ana presenciou algo magnífico, o céu, por alguns instantes, se dividiu em dois: do lado leste, onde a lua estava nascendo, era como se quase fosse noite, já se podia ver as estrelas; e do lado oeste, o sol estava se pondo, se contrastando ainda com a amplidão azulada. Bem no meio desse encontro entre o sol e a lua, Ana avistou no centro de Bafalândia uma árvore gigante que subia abrindo a sua imensa copa para esse céu multi facial. 

_ Que auspicioso você ver isso, menina Ana! – disse Flor do Sul com uma voz melodiosa que não assustou Ana em sua absorção. 

_ Flor do Sul!! O que é aquilo? 

_ O que lhe parece? 

_ Uma árvore gigante!! 

Ana parou um pouco para se localizar em Bafalândia. Ela estava na Floresta Sul, já tinha percorrido as Florestas Leste, Norte e Oeste. Havia cinco Irmãs Terra cada uma de uma direção. Então... 

_ Flor? E a Floresta do Centro? Onde fica? 

Quando Ana olhou em direção a Flor do Sul, ela já não estava mais lá. Foi então que percebeu que o tempo todo o ratinho amigo estava ali, olhando-a compenetradamente. 

_ Ahh você de novo!! Você sabe me dizer onde fica o Floresta do Centro? 

O ratinho balançou a cabeça dizendo que sim. 

_ Sério?! Você pode me levar até lá? 

O ratinho fez um gesto com as mãos de modo que Ana entendeu que mais ou menos. 

_ Como assim, amiguinho? O que é preciso então? 

O ratinho apontou para o colar de Ana. 

_ Meu colar? O que tem ele? Lush que me deu... E me disse que eu ia precisar dele em algum momento. Hummm. Vamos procurar o Lush? 

Ana se levantou e começou a caminhar em direção a Floresta Oeste bem decidida. À medida que andava pelo campo de flores sul em direção ao campo de flores oeste, o ratinho caminho atrás dela fazendo barulhinhos como se estivesse reclamando de algo. Mas Ana não se ateve muito a isso, queria chegar logo na direção oeste para procurar por Lush. 

Não demorou muito para ela avistar a árvore central da direção oeste, se dando conta que não tinha conhecido a árvore logo mais cedo. Era uma árvore tipo Flamboyant bem frondosa que brilhava por si mesma. A noite já tinha tomado conta com a lua iluminando tudo. Mas havia também muitos vagalumes contribuindo com sua mini luz. Ana estava estarrecida. Não tinha passado até então pela sua cabeça explorar Bafalândia durante a noite, mas só estava ali à quatro dias. “Acho que terei tempo!”, pensou consigo mesma. 



Enquanto estava compenetrada e ao mesmo tempo deslumbrada, Ana viu uma luz sair do centro da árvore, irradiando um feixe de luz pela sua parte virada para as montanhas, como um leque se abrindo a quase cento e oitenta graus. Ana se sentou e o ratinho também. Ambos ficaram quietos observando o que iria acontecer. 

Então, eles avistaram pequenos portais circulares de luz se abrindo e flores de lótus surgindo volitantes no ar a cerca de um palmo acima do campo de flores. Desses portais, começaram a sair vários animais de pequeno porte na forma de hologramas que entravam nos lótus. Cada um em um lótus. 

Ana se lembrou de Lush dizer que quando ele morreu e acordou em Bafalândia se viu num lótus como se fosse uma cama fofinha. 

_ Será que podemos ir lá ver como é, amiguinho? 

E o ratinho respondeu que não, balançando a cabeça. 

_ Por que não? Não tem ninguém olhando. 

Assim que Ana falou isso, ela avistou a imagens de seres mágicos encantados surgirem para cuidar dos recém-chegados. O ratinho fez um barulhinho chamando Ana para voltar por onde eles tinham vindo. 

_ Acho melhor mesmo, amiguinho. Você estava tentando me falar isso, enquanto a gente caminhava para cá, não foi? Desculpa!! – e começou a rir da situação – você podia falar como as Irmãs Terra! 

Eles voltaram pela direção sul e sem parar de saltitar o ratino continuou o percurso em direção à Floresta Leste. Ana não questionou nenhum pouco, porque já estava cansada e com fome de novo. Tinha se movimentado muito naquele dia. Era uma quase pós-adolescente. Tinha que se nutrir. 

Caminhando por mais um tempo, eles avistaram logo a árvore do campo de Floresta Leste. Ana parou. 

_ Uau!! De noite aqui é que as coisas acontecem, não é amiguinho?! 

A árvore central do leste era similar à árvore Acer Maple, contudo sua cor era azul royal brilhosa com folhas que refletiam como espelho. Chegando perto da árvore, Ana não se conteve e pegou uma folha para olhar de perto, e de fato a folha a refletia como um espelho. Seus cabelos castanhos avermelhados reluziam e ela se viu mais bonita do que se lembrava ser. Como se a árvore refletisse além do que era aparente. 



_ Se achando Ana?! – falou Flor do Centro. 

_ Ahhh não acredito, você de novo para me zoar?! 

_ É hora de ir mocinha. 

_ Eu não vou. Sitara disse que eu poderia fazer o que quisesse. Não estou quebrando nenhuma regra. E não me lembro de você ter dito no primeiro dia que havia hora para se dormir. 

_ Que malcriada! Tudo bem. Flor do Sul me disse que você queria saber da Floresta do Centro. Como eu sou a Flor do Centro... 

_ Ahh sim! Eu quero. 

_ Não sei se vou te mostrar. 

_ Tá bem! Eu pergunto para Sitara, então! 

Flor do Centro começou a rir. 

_Vamos lá?! – chamou Ana caminha em direção a Floresta Leste. 

Ana não hesitou nenhum pouco, acompanhando Flor do Centro junto com o ratinho. Logo chegaram na cabana de Sitara, onde Flor do Centro disse para Ana comer algo. Uma bandeira com frutas e castanhas já estava pronta, e também havia uma jarra de cristal com água da fonte e uma taça. Depois que Ana se saciou, todos se dirigiram para o jardim central da mandala de Bafalândia. 

Chegando lá... 

_ Flor, a Floresta do Centro na verdade é o jardim com a fonte? Mas e a árvore gigante que eu vi? Parecia que ela surgia daqui – Ana apontou para a fonte. 

_ Não é o jardim, apesar de central. A árvore que você viu é a árvore central da Floresta do Centro. 

_ E onde está a floresta? Já sei, a Floresta do Centro é composta de todas as outras florestas, campos e montanhas. É isso? 

_ Respira Ana! Você está muito afoita – disse Flor do Centro olhando para o céu como se não tivesse nada para fazer. 

Ana se sentou e se aquietou respirando profundamente, aproveitando também para olhar o céu estrelado. 

Passado um tempo... 

_ A floresta fica lá em cima? – perguntou Ana. 

_ Como você é inteligente!! – disse Flor do Centro. 

Nesse momento as outras irmãs apareceram quase que magicamente. 

_ Como posso ir até lá? 

_ A partir da fonte. Ela é a chave. Ou melhor, a porta de acesso ao elevador, vamos dizer assim. E você, Ana, já tem uma das chaves – disse Flor do Centro. 

_ Meu colar? Que Lush me deu? 

Flor do Centro sorriu gentilmente. Ana se levantou e começou a procurar na fonte onde poderia inserir o cristal que ganhou de presente de Lush. E não foi muito difícil ela achar, pois havia um desenho de uma árvore na pedra maior, e no desenho do tronco um buraco do tamanho do cristal. Ana então o inseriu na pedra, mas nada aconteceu. 

_ E agora Flor? 

_ Tem mais duas chaves. 

_ E quais são? 

_ Olhe no desenho. 

Ana olhou e viu com mais precisão que havia dois pares de patinhas diferentes um do outro impressos na pedra. 

_ Um par de patinhas é seu, né Flor do Centro? E o outro? 

Antes de terminar de falar, o ratinho já estava lá em cima da pedra, encaixando suas patinhas. Ana começou a rir. 

_ Como pode se você nem é daqui, amigo? 

Mas para sua surpresa, as patinhas dele couberam direitinho na impressão. Flor do Centro se encaminhou para a pedra também e colocou suas patinhas. 

Pausa... 

Nada aconteceu... 

_ Ué!! O que está faltando? 

_ Tem um engano, uma charada, que você não percebeu ainda – disse Flor do Leste. 

Ana andou para lá e para cá, mas depois se sentou e acalmou seus pensamentos. “Uma charada... uma charada...” De repente: 

_ Minhas Flores! Vocês cada uma é responsável por uma direção, né? Em cada direção eu tive aprendizados. Aposto que meu vestido vai amanhecer de outra cor amanhã. Ainda não está totalmente claro para mim o significado de cada direção. Mas com certeza, eu sei de duas: na direção leste, quando eu era mosquito, estava meio que limpando, não sei se a palavra é essa... 

_ Purificando – disse Flor do Leste. 

_ Ahh tá. Purificando a minha raiva e a minha fala que costuma ser um pouco agressiva e provocativa. E na direção oeste, eu trabalhei a compaixão quando encontrei com Lush e soube de sua história, não é mesmo? 

_ Hum!! Que esperta! – disse Flor do Centro – Mas aonde você quer chegar? 

_ Em você Flor do Centro. Se essas patinhas são as patinhas da formiga do centro, essa formiga não é você. Você é a Flor do Leste, e a Flor do Leste é a Flor do Centro. Bingoo! 

_ E o que faz você pensar isso? – perguntou Flor do Leste. 

_ Por que o tempo todo, a Flor do Centro aparece para me provocar, se comportando comigo como eu faço com as pessoas geralmente. Ela estava me refletindo como um espelho. 

_ Muito bem, Ana!! – disse a ex-Flor do Centro transformando o vestido branco em azul instantaneamente. 

A verdadeira Flor do Centro então, já com seu vestido modificado, sorriu gentilmente para Ana e subiu na pedra colocando suas patinhas, que se encaixaram perfeitamente. Todos viram uma luz emanar da fonte e subir como uma árvore gigante cuja copa dava no céu estrelado. Dentro da árvore holográfica tinha uma plataforma que cabia justamente uma pessoa. 

_ Pode ir Ana. Vá conhecer a Floresta Multidimensional do Centro! – disse Flor do Leste. 

Ana subiu pelas pedras da fonte até a plataforma com um ar de ansiedade pairando em seu estômago. Assim que se posicionou nela, a plataforma começou a subir lentamente como um elevador, e logo ela começou a avistar Bafalândia de cima: era uma linda mandala perfeitamente dividida em quatro direções, cada uma com sua floresta, seu campo de flores e sua árvore central. E todas rodeadas pelas montanhas nevadas. 

Contudo, não era somente isso, não que isso fosse somente. Ana avistou os quatro dragões de cada uma das quatro direções, cada um de uma cor: azul, verde, vermelho e amarelo-dourado. E continuando a subir, na parte da copa da árvore, que tinha pequenas flores de cinco pétalas brancas cintilantes, ela começou a ver outras Bafalândias com diferentes tipos de animais em cada uma delas. E subindo mais um pouco, viu hologramas de galáxias. Tudo isso nas flores brancas da árvore. A emoção era tamanha, que Ana estava completamente em êxtase diante de tanta beleza. 

A plataforma continuou a subir até o topo da copa da árvore, onde Ana passou entre um dragão branco prateado cintilante que se dispunha de forma circular protegendo a base da Floresta Central. Então, finalmente, ela chegou. A Floresta era bem pequena e o centro, onde Ana se encontrava, era gramado e tinha uma réplica menor da mesma árvore que reluzia como a lua cheia. Sentados na base da árvore, um de frente para o outro, em meditação, estavam Sitara e o Iogue em perfeita comunhão. De seus corações fluíam de um para o outro uma luminosa energia nas cores do arco-íris, que se espalhava em todas as direções. Ana sentiu um grande amor invadir o seu corpo e a sua mente. Por alguns instantes, ela conseguiu permanecer lúcida, mas a energia era muito grande e intensa, sua consciência não conseguiu manter-se totalmente presente. Então, ela foi adormecendo e no fundo de sua mente ouviu a voz de Sitara: 

_ É hora de acordar em seu mundo, minha menina! 

_ Eu não quero ir! Eu quero ficar aqui com você, Sitara. 

_ Bafalândia está em você, minha querida. Não se preocupe! Você terá a ajuda de um peregrino muito especial. Se lembre de ver nas nuances da vida, a energia de amor permear tudo. Esse sonho que você teve chamado Bafalândia é mais real do que o sonho que os humanos divididos e separados da fonte construíram, pois reflete as qualidades de sua real natureza. Se lembre disso, para não se enredar. 

_ Eu quero ficar, eu quero ficar, Sitara!! 

_ Calma, calma querida!! Está tudo bem! Foi só um sonho. 

_ Tia Sofia?... Tia Sofia? – perguntou Ana ainda sonolenta. 

_ Sim, meu bem, sou eu mesma. 

_ Que saudade de você, tia!! O que aconteceu? 

_ Calma querida! É natural a pessoa não se lembrar de nada depois que teve um acidente. Mas está tudo bem com você. Você está num hospital. 

_ A última coisa que me lembro é de ter brigado com mamãe e saído chateada com o carro dela. 

_ Sim, isso mesmo. E daí você se acidentou. Felizmente não feriu ninguém, nem você mesma gravemente. 

_ Eu estava num lugar incrível, tia! Não queria voltar prá cá. 

_ Ah querida! – Sofia abraçou Ana carinhosamente a acolhendo em seus braços por alguns minutos. 

_ Cadê mamãe? 

_ Ela foi dormir um pouco. Ficou muito tempo aqui cuidando de você e procurando encontrar o seu presente de aniversário. Parabéns Ana!! Dezoite anos!! 

_ Já é meu aniversário? 

_ Daqui a três dias. 

_ Como assim três dias? 

_ Calma querida. Deixe eu chamar a enfermeira para avisar que você acordou. Tá bem? 

Ana se acalmou. A cabeça estava um pouco pesada e o corpo um pouco dolorido. A enfermeira entrou depois de um tempo com o médico para examiná-la. Tudo estava bem. Seus sinais vitais e tudo mais. Ela teve apenas uma mancada na cabeça e foi mantida dormindo por um tempo por precaução. Alguns exames seriam necessários apenas para avaliar o seu estado. 

A mãe de Ana também foi avisada e em menos de duas horas já estava lá, abraçando a filha. Ana sentiu um carinho muito grande de sua mãe para com ela. Algo que não sentia a muito tempo. 

_ Desculpa mamãe!! 

_ Tudo bem minha filha!! Veja, por causa do seu acidente, eu e sua tia fizemos as pazes. 

_ Eu fico muito feliz com isso! – e abraçou a mãe aproveitando daquele aconchego. 

Ana ainda ficou por dois dias no hospital em observação e para alguns exames. No dia de sua alta, que era o dia de seu aniversário, sua mãe e sua tia estavam muito animadas. A irmã de Ana também estava lá no quarto, se segurando para não contar sobre o presente. Havia balões e muitas flores enviadas por familiares e amigos. E em casa, o bolo preferido de Ana a esperava, feito com muito amor por Sôsô. 

_ Minha filha, eu tenho um presente muito especial para você. Eu o encontrei!! 

_ Encontrou quem, mamãe? 

_ Seu pai biológico. 

_ Como assim?!! 

_ Não foi difícil, na verdade!! Eu confesso que me fazia de difícil quanto a esse assunto... Então, ele está aqui. Chegou ontem a noite. Está ansioso para conhecê-la e ficou muito feliz quando soube que tinha uma filha. Acho que nós dois estamos agora em paz com o nosso passado, porque você é um feliz presente querida! 

Ana sentiu seu coração palpitar e começou a chorar. Tudo que mais queria estava prestes a acontecer. 

_ Posso chama-lo, Ana? Você está pronta? 

Ana balançou a cabeça afirmando que sim. 

Em menos de um minuto... 

_ Ana, este é seu pai, Carlos. 

Ana viu um homem de meia idade entrar no quarto. Olhou para ele como se já o conhecesse. Olhou para os seus braços, que eram estranhamente familiares. 

_ Sr. Rodrigues? 

Todos se entreolharam surpresos. 

_ Menina Ana?!! Minha filha! 

Os dois se abraçaram e sentiram em seus corpos o amor incomensurável de Sitara. 


Fim dessa edição. 

Agradeço a todos que me acompanharam nessa aventura de escrever uma história em forma de episódios, que embora fictícia, trouxesse alguma mensagem ao coração. Eu me diverti escrevendo, espero que vocês tenham se divertido lendo.

Por enquanto a história ficará disponível online!

Com carinho,

Juliene Macedo


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Notas:

Sobre a àrvore Flamboyant

Sobre a árvore Maple Acer: